quinta-feira, 25 de novembro de 2010

17 de Julho

Lembro-me das noites que estive sozinha em minha casa e quando eu era abandonada por quem me jurou consolo. Mas você, sempre esteve ali, quando eu finalmente abri os meus olhos para o amor verdadeiro, para a doce melodia que deixava o piano enquanto você tocava suavemente suas teclas.
Ainda tenho em minha mente a imagem do piano. Ah o piano. Seus dedos deslizavam em suas teclas assim como deslizaram no meu corpo naquela mesma noite. Seus olhos me fitavam de um jeito diferente de muitas das outras vezes que estivemos na mesma situação. Conseguia até ver seus pensamentos saltitando em sua mente só de olhar em seus olhos cor de mel.
Respirei fundo, senti o cheiro de sua pele que insistia em me tocar. Provamos do doce e venenoso gosto do pecado.
Recordo-me do cálice de vinho, em que finalmente consumiria o meu veneno. Entretanto, confesso que não tive a coragem. Não consegui congelar meu coração que naquele dia estava em chamas. Então, lembro-me que estirei o cálice no chão e me entreguei em seus braços e te beijei como se fosse o único home da terra.
Sabe, confesso que eu já estive muitas vezes naquela mesma situação, mas daquela vez havia sido diferente. E podia sentir o seu coração bater junto ao meu, sentir a chuva que molhando nossos corpos enquanto você me enlaçava em seus braços, enquanto o céu se enchia de cores e podíamos ouvir o som dos trovões.
Eu juro que se precisasse beber aquele cálice amargo e venenoso, eu o faria. Beberia até a ultima gota, e tiraria a minha vida ao invés da sua. Pois tu foste o único que fez com que eu me sentisse uma mulher.
Agora, eu tenho que me despedir, chegou minha hora. Mas eu e espero que envolva em suas mãos esta carta e me olhe pela ultima vez com seus olhos brilhantes e penetrantes, quando as conseqüências de nossos atos caírem em nossas cabeças com a lâmina espessa e brilhante da guilhotina.


 De sua pecaminosa amante
Rainha Elizabeth

17 de julho de 1856

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