quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

I never told you



Oi mãe, tudo bem?

Eu sei o quanto isso é inútil, sei que você nunca mais lerá minhas cartas, ainda mais depois dos erros que cometi contigo. Mas preciso confessar, ou ao menos por em palavras tudo o que se mistura dentro de mim, antes de realmente ter que lhe abandonar mais uma vez. Só queria que você lesse todos os sentimentos guardados por alguns anos. Sabe, ao menos quero acreditar que serei ouvida por alguém tirarei um pouco do fardo que carrego em meus ombros.
Hoje mãe, eu matei um homem. Pus a arma contra a cabeça dele, puxei o gatilho agora ele está morto e estendido no chão da minha sala como um tapete. Você não tem a mínima ideia do quanto eu desejava ouvir hoje aquela mesma frase que você me dizia todas as vezes que eu cometia um grande erro: eu te avisei. E depois gostaria que me abraçasse forte e dissesse que tudo ia ficar bem. Mas neste momento, apenas busco essas palavras em minhas memórias mais profundas enquanto observo o pobre homem, contorcido perto de meus móveis de alvenaria, enfeitando de forma macabra e obscura o meu cenário. Ah, o homem da minha vida, estirado no chão, sem ar, sem vida.
Homem da minha vida... Eu sei, é mentira. Hoje mãe, descobri o quão egoísta, fria e seca eu sou. Descobri que minha vida, nunca passou de um grande teatro, uma encenação sem aplausos, sem plateia. E eu me arrependo de não ter seguido seus conselhos, de não ouvir seus gritos de pavor todas as vezes que eu saia com meus amigos porta a fora. Você sempre disse que eles eram más companhias, e que cedo ou tarde, me arrependeria de não dar valor as suas reclamações. Juro que hoje lhe escrevo, com o coração repleto de arrependimento, e sinto que deveria ter seguido o caminho que você havia planejado para mim.
e, agora eu o observo mais uma vez. Observo que o seu corpo continua quente, e seu sangue fervendo, e me sinto culpada. Eu o matei. Ceifei sua vida e massacrei seus sonhos lentamente em minhas mãos. Esmaguei meu tesouro como se fosse qualquer outra coisa desprezível.
É mamãezinha querida, nada realmente importa para mim. Meus sonhos e expectativas eu mesma destruí.
Por favor, eu lhe imploro que me ajude a ser forte para poder agora olhar para esse homem e conseguir cessar meu choro e encarar a consequência de meus atos como uma verdadeira mulher. Porém, sou apenas uma garotinha assustada que precisa de você agora. Eu preciso sentir suas mãos deslizando sobre meus cabelos e me sentir protegida como se estivesse envolvida pelas asas de um anjo.
Minhas lágrimas hoje expressam meu arrependimento, enquanto elas mancham minha mobília suja de sangue inocente. Porém mamãe, eu puxei o gatilho. Eu tive a escolha, entre escolher a minha vida, e a vida desse homem. Mas eu escolhi a minha.
Desculpe-me por te decepcionar, eu não tive a coragem de fazer pelo meu filho, o que fez por mim, que foi entregar sua vida de toda a vontade, e sem temer o que aconteceria dali pra frente.
Agora finalizo essa carta. Tenho que fugir, me refugiar de alguma forma, me esconder do futuro. Fugir para um lugar bem distante de seus olhos, fugir de qualquer lugar que você consiga enxergar o interior de meu coração.
Eu te peço piedade, em qualquer lugar que estiver, mas compreenderei se não me perdoar.
Eu sinto muito por tudo
                                                                                                                                       MJ 

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