sábado, 3 de julho de 2010

O sonho


Era uma noite de inverno, eu caminhava pelas ruas de Nova York enquanto milhares de pessoas passavam perto de mim, todos pareciam tão comuns, eu era a única que era diferente, não sei por quê. Vagava pelas ruas andando sem rumo, procurando um destino que me achasse a qualquer esquina fria, e pouco movimentada entre os grandes arranha céus que me cercavam conforme eu adentrava na cidade.
Eu era forasteira, em uma cidade que me encantava a cada passo. Olhava para os lados atentamente, memorizando cada detalhe, cada cheiro, cada movimento de cada um que passava diante de mim. Eu estava em busca do meu sonho, nem que isso custasse caro para mim. Apenas com uma mala em meus braços, e um sonho que me enchia de esperança, havia saído do Brasil com isso, em busca do que nunca ninguém fez por mim, do que as pessoas viravam as costas, e me deixavam na escuridão. Aqui, era onde eu esperava que as pessoas fossem me dar uma chance. De ser que eu sou, e ser aplaudida por isso. Fiquei parada no mesmo local, por um longo tempo, enquanto as pessoas esbarravam em mim, e eu não importava, pois um dia, eu iria ser quem eles dariam tudo para ficar um segundo perto de mim. Meu sonho era ser cantora, ser aplaudida, amada e adorada por todos, mas o meu maior sonho era ser amada.
Fechei os olhos e respirei profundamente, e vaguei, pelo resto da noite. Olhando para o alto e imaginando o que seria daqui para frente: uma garota, um sonho, um amor desconhecido e perdido, desilusões e um passado fervoroso, com bebidas e shows durante as noites longas e intermináveis.
Eu estava ali, em busca do meu sonho, de ser alguém, de ser aplaudida, de ser apenas alguém que o mundo se lembraria. Adormeci em uma praça, tendo como sonhos as noites longas e felizes ao lado do americano ruivo e atraente que me roubou o ar, que trazia as estrelas nos olhos, e me fazia sonhar ao olhar o seu lindo sorriso. Que me fazia perder o rumo de casa, vagando insistentemente na orla com meus trajes curtos e provocantes. Momentos que desejava que durasse a eternidade. Mas ele fugiu de mim, deslizou em minhas mãos como a areia do mar e foram embora junto com o vento que beijava meu rosto todas as noites ao olhar para as estrelas. E eu estava ali, em busca de quem havia partido, com tristeza, e esperança, de que ele estivesse mais perto de mim a cada momento. Uma voz, dizia repetidamente que eu estava certa, nunca devia ter me deixado cair em seus encantos. Era para ser apenas diversão, trabalho, coisa de uma única noite... Como sempre havia sido. Mas ele era diferente, ele fez me abrir de novo para o amor. A me arriscar a troco de nada, e agora eu estava ali, sozinha, em uma cidade estranha, sem ninguém para me proteger, sem ninguém para me abraçar para que eu chorasse longas horas seguidas, me queixando da minha vida difícil. A vida é assim mesmo, quando menos se espera, ela tira alguém tão precioso de nós. Sentei e fiquei observando, enquanto as lágrimas salgadas dançavam em meu rosto, se misturando com o suor. E entre lágrimas e soluços, me levantei, e comecei a cantar entre lágrimas e minha voz tremida, respiração ofegante, chorando de saudades e depressão. Comecei a demonstrar o talento que ninguém nunca tinha dado valor, enquanto as pessoas passavam e me olhavam com dó, enquanto eu cantava repetidamente, o que eu desejava falar para quem eu amava naquele momento: You appear just like a dream to me”  enquanto eu me retraia lentamente, e me fechava mais uma vez:
- O que eu fiz? Por que você foi embora meu amor?
Fechei os olhos lentamente, me contraindo de dor e raiva de minha vida, me levantei, subi até um dos prédios ao meu redor e me debrucei. Eu estava decidida, nada mais valia à pena. As pessoas riam de mim, tinham pena. Ele havia me deixado. Nada mais me importava. Subi, lentamente, e respirei fundo. Eu estava prestes a me jogar, até que eu ouvi uma voz suave que me fez despertar da maluquice que eu estava fazendo.
- Por favor, não faça isso! – a voz tremia, era rouca e suave, como nas minhas lembranças – Eu estou aqui!
Desci correndo e o segurei em meus braços, e me senti segura, protegida, e pude chorar, e olhá-lo nos olhos mais uma vez, e pude sentir que nunca estive sozinha, e que ele me amava por quem eu era, mesmo com minhas roupas curtas, meu passado obscuro de prostituta. Ele apareceu pra mim, como um sonho... Como um príncipe encantado montado em seu cavalo branco, quando eu fui desprezada e humilhada quando não tinha garantia de que minha vida iria ser fácil. Quando não há nenhuma luz para quebrar a escuridão É aí que eu... Eu olho para você e eu me sinto segura outra vez. Pude olhá-lo nos olhos, e sentir o seu beijo molhado e amoroso mais uma vez, que eu sabia que daqui para frente, era a única boca que eu iria beijar, pela eternidade. 

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