terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Realidade


Naquela época, sua voz era fabulosa, e a gloria de ter seu nome gritado por muitos deveria ser algo que ele sabia muito bem explicar, ou talvez faltassem palavras. Ele era muito famoso, idolatrado, fazia com que as garotas se derramassem aos seus pés. O garanhão que todos viam, não passava de um garoto normal.



De música, eu entendia muito pouco. Gostava de ficar na frente da minha casinha simples, arranhando algumas notas no violão. Eu era a garota ‘romântica’, que cantava canções de amor que embalavam corações machucados e expressava na dança, no meu ballet, a minha maior paixão os sentimentos que ninguém conseguia pôr pra fora. Eu era a porta-voz dos cansados e feridos corações. 


Nós éramos artistas, atores, fingidos, e estávamos envoltos na mesma dificuldade, ele que fingia ser o homem mais frio do mundo, se mostrava pra mim, de uma forma que qualquer mulher cairia em seus braços, e eu, tão sensível e delicada, tinha uma pedra ao invés de um coração, as dificuldades da vida fizeram com que eu se esquecesse dos sentimentos que traziam felicidade.  Foi então que nos conhecemos, nesse jogo de teatro, sendo a pessoa que o publico desejava amar. Eu estava com meus olhos, manchados das cores de um arco-íris que o enfeitiçaram como uma porção venenosa. A delicadeza dos meus atos seduziram os dele, e embalaram a alma daquele pobre garoto.  



Alguns meses depois, pude sentir aquele ser se contorcendo dentro do meu ventre. Gerar uma vida dentro de mim me fazia crescer e querer me tornar melhor. Ver sua filha tocar minha barriga e conversar com o irmãozinho faz com que os olhos dele se encham de agua.  Faz com que sua vida valha a pena. 



Ver o sacrifício do homem que finjo ser insubstituível todos os dias faz com que eu tente imaginar o que é ser feliz de verdade. Quando o vejo correr  para abraçar sua filha depois de um dia longo no escritório me faz preencher um pouco o vazio. Ele largou seu maior sonho que era cantar para que eu vivesse o meu. Se eu um dia eu sentir alguma coisa seria por eles, pois nunca vi alguém me amar tanto quanto eles me amam e me apoiam. Se neste momento essa pedra que possuo dentro do meu peito estiver se despedaçando virando ruinas eu finalmente conhecerei o que é o verdadeiro amar...

4 comentários:

Jey Bi disse...

Nossa que perfeição de escrita. Amei o texto. parabéns.

Anônimo disse...

Lindo demais *-*
http://walkingoncircles.blogspot.com

Pamela Moreno Santiago disse...

Parabéns pelo terceiro lugar na Edição Passatempo.
Continue assim e participando deste belo projeto.

Pamela, avaliadora do Projeto Créativité.

Patrícia disse...

Nunca tinha lido um texto dividido dessa forma e foi por essa perfeita escrita que me encantei.
Lindo texto, parabéns.
bjs